Como uma alternativa mais sustentável à atividade agrícola, os sistemas agroflorestais (SAFs) integram árvores nativas à área produtiva, gerando inúmeros benefícios ambientais e econômicos para a propriedade rural e a toda a sociedade. Os sistemas contribuem para a manutenção de diversos serviços ecossistêmicos, entre eles a provisão de água, mitigação das mudanças climáticas, prevenção de eventos climáticos extremos (secas, enchentes e deslizamentos), diversificação e aumento da produção de alimentos mais saudáveis, entre outros. Por esse motivo, a agrofloresta também é uma prática incentivada e recompensada pelo projeto Conexão Mata Atlântica como um importante serviço ambiental.
Muitos produtores rurais do estado do Rio de Janeiro estão migrando da monocultura ou diversificando a produção a partir de sistemas agroflorestais. Segundo a agrônoma Ana Bittar, que antes mesmo de se tornar técnica do projeto Conexão Mata Atlântica em Varre-Sai atuava como consultora do Sebrae, tem acompanhado nos últimos anos uma crescente transformação cultural nas propriedades rurais do Noroeste Fluminense, que têm adotado, cada vez mais, sistemas produtivos mais sustentáveis.
Segundo ela, os produtores vêm dando retorno muito positivo sobre a implantação de sistemas agroflorestais. “Temos exemplos de produtores que, antes de implementarem a agrofloresta, precisavam parar a produção no período da seca, e que com a adoção desse tipo de manejo agroflorestal passaram a produzir mais e com uma boa variedade de produtos durante todo o ano. Muitos ficaram tão satisfeitos que, em um ano, resolveram aumentar até cinco vezes a área inicial”, celebra Ana.
Segundo a agrônoma, os sistemas agroflorestais, se implementados adequadamente, podem aumentar a produtividade e gerar muitos benefícios ambientais para a propriedade. A densidade do sistema melhora, por exemplo, o microclima e a umidade do solo. Mas Ana alerta que é preciso definir bem o arranjo do sistema em diferentes estratos verticais – alto, médio e baixo. “As árvores mais altas produzem mais sombra, que ajudam a amenizar o calor no período mais quente. Por isso é necessário abrir uma clareira entre as linhas de árvores para que as hortaliças – que estão no estrato mais baixo –, possam receber a luz solar”, explica.
Para o bom desempenho do sistema, Ana destaca que é fundamental realizar o manejo a partir da poda permanente das árvores, que servirá como composto orgânico para cobertura do solo e auxiliará no controle da luminosidade. “A poda das bananeiras, que são muito importantes para o sistema, por exemplo, geram matéria orgânica para compostagem e ajudam a preservar a umidade do solo. Cobrir todo o solo com palha, folhas e galhos, também reduz a infestação de ervas daninhas”.
No estado do Rio de Janeiro, os sistemas agroflorestais são regulados pela Resolução INEA 134/2016, que define critérios e procedimentos para a implantação, manejo e exploração e para a prática do pousio no Estado do Rio de Janeiro.
Benefícios econômicos
A cooperação entre espécies nativas e culturas agrícolas ajuda a autorregular o sistema, melhorando a produtividade e eliminando a necessidade de uso de defensivos agrícolas. Segundo Ana, “precisamos mudar o paradigma da monocultura, de que tem que plantar tudo de uma vez e colher tudo de uma vez. Na agrofloresta, a gente colhe o ano todo. Em dois meses já é possível produzir hortaliças, que tem venda rápida, enquanto isso, as frutíferas e leguminosas estão crescendo e, assim, o ciclo produtivo se torna contínuo”.
Existem inúmeros arranjos possíveis para uma agrofloresta, que deve ser definida de acordo com as características da propriedade (geográfica, clima, solo etc) e das necessidades do produtor rural. Embora seja muito difícil comparar um arranjo com o outro, inúmeras pesquisas e experiências práticas apontam que áreas com sistemas agroflorestais podem aumentar significativamente a produtividade em relação à áreas de monocultura. A diversificação, o consorciamento de espécies e o cultivo em extratos espaciais e temporais favorecem esse acréscimo de produção em uma mesma área.
Segundo Ana, produtores que adotaram o sistema estão muito animados e empoderados para transformar a realidade rural onde vivem. “O segredo é observar, imitar ou simular os processos da natureza”.
O projeto Conexão Mata Atlântica no Rio de Janeiro incentiva a Conversão Produtiva em áreas de baixa produtividade. Produtores beneficiados pelo primeiro edital (Edital PSA 02/2018) que adotaram os sistemas agroflorestais já estão com as práticas em estágio mais avançado e para os beneficiados pelo segundo edital (Edital PSA 06/2019) este é o momento para iniciar ou concluir a etapa de implantação dos sistemas.
Produção mais sustentável
Aos poucos, essa nova relação com a terra tem recuperado áreas antes degradadas, mudando a paisagem da região, melhorando a qualidade de vida das famílias nas áreas rurais e a qualidade dos alimentos. O projeto tem bons exemplos para compartilhar e inspirar outros agricultores a seguirem esse modelo de produção mais sustentável.
Como é o caso da Maria Aparecida Nunes, proprietária do Sítio Terras Altas,
em Valença, Sul do estado do Rio, que há mais de três anos iniciou a implantação de cerca de um hectare de sistema agroflorestal com legumes, hortaliças, frutíferas e espécies nativas. Em um ano, após a implantação do sistema, era possível produzir itens suficientes para compor cestas agroecológicas, que eram comercializadas na cidade.
A área foi contemplada no primeiro edital do projeto e com os bons resultados gerados foi ampliada a partir do segundo edital de apoio à Conversão Produtiva. Atualmente, a propriedade mantém cerca de 2 hectares de agrofloresta reconhecidos e recompensados como serviço ambiental pelo projeto Conexão Mata Atlântica.
Embora ainda em pequenas quantidades, os alimentos colhidos da agrofloresta são variados e têm garantido a alimentação da família e de colaboradores que moram na propriedade. “O desafio é tornar a propriedade auto suficiente, usufruindo apenas do que a terra é capaz de produzir”, afirma a agricultora. Segundo Maria, a ideia é que no futuro o sítio se torne um espaço para difundir a prática agroflorestal como alternativa de produção sustentável.
Além do sistema agroflorestal, a propriedade vem desenvolvendo outras ações ambientais incentivadas pelo Conexão Mata Atlântica. São mais 20 hectares de restauração florestal e de cerca de 20 hectares de floresta nativa – o equivalente a mais de 50% da propriedade –, também reconhecidos pelo projeto.
Segundo Maria Aparecida, o trabalho de restauração da vegetação da propriedade, que já teve como principal atividade a pecuária, começou há mais de seis anos e um ano depois teve apoio do projeto Água do Rio das Flores. “Cercamos as áreas de nascentes, refizemos a barragem e o lago, e realizamos mutirões para plantar mais de três mil mudas doadas pela Cedae. Tudo isso tem ajudado a garantir a água da propriedade”.
Os recursos de PSA Anual foram investidos na construção de galinheiro, na compra de implementos agrícolas como trator, sistema de irrigação, roçadeira e mudas de nativas e frutíferas para ampliação do sistema.
Alimentos mais saudáveis
Outro exemplo bem sucedido de sistema agroflorestal incentivado pelo projeto Conexão Mata Atlântica é a propriedade Recanto São Francisco, em Porciúncula, Noroeste Fluminense. Em 2001, a cafeicultura Maria Lúcia Muruci começou, de forma intuitiva, a plantar diversas espécies de árvores nativas endêmicas em uma área que antes era pastagem.
O sistema, que foi contemplado no primeiro edital do projeto, conta com espécies como uvaia, cambucá, palmito juçara (ameaçado de extinção), ingás, angicos, cedros, além de culturas de valor econômico, palmito pupunha e outras de ciclo anual. A produção tem sido direcionada para o consumo da família e o excedente é vendido na feira local e ajuda a complementar a renda da família.
Com o PSA Apoio Financeiro para conversão produtiva, Maria Lúcia está ampliando a agrofloresta em mais meio hectare, além de iniciar a conversão de mais de 10 ha de pastagem em sistema silvipastoril (introdução de árvores nativas e/ou econômicas ao pasto). Com o recurso do PSA Anual, ela também está investindo no turismo rural a partir da construção de um espaço para receber visitantes interessados em oficinas de capacitação em agrofloresta e agricultura sintrópica, além da compra de um moinho.
Além da agrofloresta, mais de 40% da propriedade de Malu é de floresta nativa conservada, ação ambiental pela qual também foi reconhecida como prestadora de serviços ambientais pelo primeiro edital do projeto Conexão Mata Atlântica. “Eu preservo a floresta por prazer e amor à natureza. Poder receber por isso é um reconhecimento maravilhoso pelo trabalho que nós estamos desenvolvendo”, celebra a produtora que também é professora aposentada.
Conversão Produtiva
Na primeira seleção, o Conexão Mata Atlântica recompensou mais de 38 hectares de sistemas agroflorestais e silvipastoris nas áreas onde atua no estado do Rio de Janeiro. Com o resultado do segundo edital, que trouxe como inovação o PSA Apoio Financeiro para implementação dos sistemas de conversão produtiva, foram superadas as expectativas e o projeto ampliou a área incentivada com esse tipo de prática, selecionando mais de 110 produtores para implantação de 600 hectares de ambos os sistemas (silvipastoril e agroflorestal).
As ações visam a recuperação dos serviços ecossistêmicos e a manutenção da biodiversidade na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. “O projeto tem demonstrado grande potencial transformador, especialmente pelos sistemas incentivados, que possibilitam o resgate dos valores e benefícios que os cuidados ambientais proporcionam. Além de emprego, renda e alimentos, diversos benefícios são gerados à sociedade com áreas produtivas mais eficientes. Tendo árvores e diversidade nos sistemas produtivos todos nós somos beneficiados. Adaptar nossos sistemas e modelos produtivos é fundamental para criarmos novas oportunidades e sustentabilidade para nosso estado e nossa grande Bacia do Rio Paraíba do Sul”, afirma Gilberto Pereira, coordenador executivo do projeto Conexão Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro.
Confira a Cartilha para Conversão Produtiva de Áreas que preparamos para orientar os produtores rurais sobre o conceito, benefícios e etapas para implementação dos sistemas de acordo com as normas estabelecidas no Edital PSA 06/2019.
Para saber mais sobre o sistema silvipastoril, leia a matéria Sistema Silvipastoril: pecuária produtiva com benefícios ambientais que publicamos no site do projeto.
Fiquem atentos aos prazos
Aos produtores rurais beneficiados pelo segundo edital e que se comprometeram a desenvolver ações de conversão produtiva, este é o momento para dar continuidade ou iniciar a implantação do seu sistema.
Fique atento às regras de execução e prestação de contas do Edital PSA 06/2019. Mantenha contato com a equipe técnica e siga as orientações divulgadas pela equipe. Leia o Comunicado Importante - Projetos de Conversão Produtiva.
O Conexão Mata Atlântica está empenhado em viabilizar a Conversão Produtiva de áreas e a maior oferta de serviços ambientais para toda a sociedade.
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