Além de reconhecer ações de conservação e restauração ecológica, o Conexão Mata Atlântica incentiva a adoção de boas práticas produtivas. Em seu segundo edital (PSA 06/2019) o projeto adotou uma nova possibilidade de incentivo que viabiliza e incentiva fortemente a adoção de práticas ambientais conservacionistas para recuperação de áreas produtivas com baixa rentabilidade, o PSA Apoio Financeiro. A intenção é a recuperação e conversão dessas áreas em sistemas agroflorestais e silvipastoris, que incluem espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica.
A depender do perfil das propriedades e dos produtores beneficiados, pecuaristas ou cultivadores de lavouras diversas (olericultores, cafeicultores etc) são realizadas propostas adaptadas a cada caso, mas que devem atender a um critério fundamental: a integração de árvores nativas à lavoura ou à pastagem. Ao todo, mais de 590 hectares com baixa produtividade em áreas de atuação do projeto no estado do Rio de Janeiro estão sendo manejados. As áreas foram selecionadas no segundo edital público do projeto (06/2019), que prevê o modalidade Apoio Financeiro para implementação das práticas.
Com os recursos, os produtores rurais beneficiados estão avançando em etapas de implantação dos sistemas, que envolvem a revitalização completa das áreas para produção e prestação de serviços ambientais. Nesse processo devem ser garantidos o isolamento (contra fogo e outros vetores de degradação), a revitalização do solo (a partir de análises de fertilidade e realização de correções devidas), o preparo do solo deve ser sempre em nível (de maneira a proporcionar benefícios como maior acúmulo de água e diminuição da sedimentação), a implantação de culturas adaptadas às aptidões locais, e por fim a introdução e manutenção de espécies florestais que devem ser mantidas perpetuamente nos sistemas.
Os sistemas agroflorestal e silvipastoril promovem diversos benefícios ambientais e econômicos para as propriedades e toda a sociedade. Eles contribuem para a manutenção dos serviços ecossistêmicos, pois ajuda na conservação do solo, provisão de água, redução dos riscos de efeitos climáticos extremos – como enchentes, deslizamentos de encostas e seca –, além de favorecer a segurança alimentar a partir da diversificação da produção e redução do uso de agroquímicos.
Os arranjos dos sistemas são definidos pelos produtores – com apoio dos técnicos locais do projeto – durante a elaboração dos Projetos Executivos de Conversão Produtiva, de acordo com as atividades econômicas e perfil das propriedades rurais. Conheça alguns exemplos de projetos de conversão produtiva e como está a implementação das ações de três produtores beneficiados pelo projeto.
Café sombreado em Varre-Sai
A agricultora Alessandra Aparecida de Oliveira e o marido Cláudio Roberto, já estão bem adiantados no processo de implementação de sistemas produtivos mais sustentáveis no sítio da família, em Varre-Sai. Eles estão concluindo a fase de plantio das mudas e incremento de cerca de 3 hectares, divididos entre o consórcio de café com espécies nativas arbóreas, pomar agroflorestal e silvipastoril. A família também foi contemplada no primeiro edital do projeto por ações de conservação e restauração. Com isso, mais de 90% da pequena propriedade – com cerca de 5 hectares – da família tem sido contemplada com recursos de PSA.
Com o apoio financeiro, o casal adquiriu e plantou mais de 160 mudas de diversas espécies nativas frutíferas e madeireiras, como a palmeira juçara e o ipê, além de muitas frutas que complementam a alimentação e a renda da família. “Além das áreas do projeto, temos outra lavoura de café que já tem bastante árvores e elas não atrapalham em nada. Pelo contrário, deixam os grãos maiores, além da gente não precisar trabalhar o tempo todo no sol”, conta Alessandra, que já planeja introduzir, por conta própria, mais mudas de juçara no cafezal.
Engajada e determinada em desenvolver as ações propostas junto ao Conexão Mata Atlântica, Alessandra diz que o projeto está ajudando a realizar um sonho. “Eu adoro plantar. Espero que daqui uns dez anos a nossa propriedade tenha bastante mata, com muitas espécies nativas e frutas. Os pássaros adoram e fica um lugar muito agradável”.
Silvipastoril com criação de abelhas em Italva
Em Italva, outra área de atuação do projeto, o produtor rural Gelson dos Santos e a esposa Zumira também resolveram inovar e estão transformando o pasto, onde têm uma pequena criação de gado leiteiro, em um sistema silvipastoril com introdução de espécies nativas com floradas para produção de mel.
A propriedade foi selecionada no segundo edital e com os recursos do apoio financeiro para conversão de áreas produtivas estão inserindo linhas de árvores como a acácia, o vinhático, o ipê, o jenipapo, entre outras espécies. “Além de dar mais sombra para o gado e evitar erosão, vai melhorar a polinização e aumentar a produção de mel, que comecei a investir este ano. É um dinheiro extra que entra”, diz animado.
Estão sendo plantadas mais de 60 mudas em cerca de 1 hectare de pasto. “Está sendo muito bom participar do projeto, que explica como implantar o sistema, como fazer a curva de nível, inserir as linhas de árvores e fazer a manutenção. A assistência técnica é uma das coisas mais importantes para nós produtores”, afirma Gelson, que também cultiva tomate, feijão e milho, que ajudam na criação dos animais e na despesa da casa, além de complementar a renda da família.
Com o sistema, o produtor também espera aumentar a capacidade de produção do leite, que usa parte para o consumo e o excedente vende para indústrias de laticínios por meio da associação de agricultores local.
Ampliação de agrofloresta em Valença
Há quatro anos o agricultor John Israel Perro começou, por conta própria, a implementar um pequeno sistema agroflorestal em sua propriedade, o Sítio Paraíso, em Valença. Agora, com os recursos de PSA do Conexão Mata Atlântica, ele está ampliando o sistema – que integra árvores à lavoura – como uma alternativa mais sustentável para diversificar a produção e melhorar a renda da família. O projeto está incentivando a implementação de 1,6 hectares de agrofloresta.
Com o recurso do Apoio Financeiro para conversão produtiva, o produtor vai investir no aumento da produção de banana, consorciando com jabuticaba, cabeludinha, juçara, abiu, pitanga, ipê, entre outras espécies nativas frutíferas. “A ideia é, no futuro, beneficiar essas frutas aqui na nossa cozinha”.
O agricultor já concluiu algumas etapas de implementação da conversão produtiva, como o cercamento da área, limpeza do terreno, coleta de solo para análise e descompactação do solo. Atualmente, John está executando o processo de correção da acidez do solo e adubação, preparando a terra para receber as mudas. “Estamos planejando começar a plantar assim que o período de chuvas começar, para elas não sentirem muito. Com o calor e a chuva ajudam elas a crescerem mais rápido”, explica.
Segundo John, dos 30 hectares da propriedade, dois são de agrofloresta: que ele planeja ampliar ainda mais. “Estou caminhando para transformar toda a área produtiva da propriedade em agrofloresta. São muitas as vantagens: a gente consegue colher várias culturas ao mesmo tempo em um espaço muito menor, sem contar que as árvores se incumbem de devolver matéria orgânica e água para o solo. Te poupa tempo em irrigação e fertilização", conta.
A maior parte da produção da propriedade – que inclui banana, batata doce, inhame, pepino, beterraba, tomate, repolho e vagem – é fornecida para a merenda escolar para mais de 50 escolas municipais e estaduais da região. O restante é para consumo da família.
Para o produtor, além dos recursos, a troca de informação com os técnicos tem trazido muitos benefícios, incentivando a continuidade das ações. “Todo o recurso tem sido aplicado em melhorias na propriedade, com a intenção de melhorar sempre. Eu já tinha essa visão de produção sustentável e apareceu o projeto para incentivar. Foi o casamento perfeito”, afirma.
Para saber mais sobre todas as etapas de implantação dos sistemas agrosilvipastoris, acesse a nossa Cartilha para conversão produtiva de áreas.
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