Como parte das comemorações do mês da Mata Atlântica, lembrado no dia 27 de maio, o Conexão Mata Atlântica elaborou um calendário anual com o período de floração e frutificação das principais espécies nativas presentes no estado do Rio de Janeiro. Além de contribuir para a preservação dos serviços ecossitêmicos do bioma, que abriga mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 8 mil são endêmicas (dados do SOS Mata Atlântica/INPE), o calendário tem como objetivo despertar o interesse de produtores rurais para novas oportunidades de uso dos atributos florestais como potenciais fontes de benefícios e renda.
De forma prática e sintetizada, o Calendário de floração e frutificação de espécies nativas da Mata Atlântica (para baixar, clique no link) informa o ciclo produtivo de 21 árvores nativas. São elas: embaúba, pau-d’alho, pau-jacaré, juçara, guapuruvu, eritrina, aroreira, pau-brasil, angelim, murici, cedro, ingá, ipê amarelo, jacarandá, jatobá, jequitibá, pau-ferro, quaresmeira, sapucaia, sibipiruna, sobrasil. A fonte de pesquisa foi a coletânea de livro Árvores Brasileiras, de Henri Lorenzi.
O calendário pode ser uma ferramenta valiosa para os produtores rurais. Ele auxilia no aproveitamento de sementes e frutos para ações de recuperação e subsistência, além de trazer informações claras para aqueles que buscam diversificar suas atividades, com real possibilidade de aumento de renda na propriedade rural. A partir do manejo florestal adequado das espécies nativas da Mata Atlântica é possível extrair diversos produtos da biodiversidade como sementes, frutos, óleos essenciais, biojoias, assim como a exploração de madeira certificada. Por isso a importância de conhecer bem o período de floração e frutificação de cada espécie para um melhor aproveitamento desses potenciais.
Segundo o coordenador executivo do projeto, Gilberto Pereira, essa pode ser uma boa oportunidade, especialmente, para os agricultores familiares. “O resgate desse potencial da Mata Atlântica pode trazer muitas oportunidades e fortalecer a conservação e a recuperação ambiental. A diversificação da produção poderá ajudar a complementar a renda de produtores rurais, contribuindo para a viabilidade da propriedade e o sustento da família, além de gerar impactos socioambientais positivos nas comunidades rurais.”
No entanto, é importante ressaltar que o uso de bens e serviços florestais deve respeitar a legislação vigente, mesmo que em propriedade privada. Devem ser observadas as orientações e normas legalmente estabelecidas e contidas nos diversos regulamentos vigentes no Brasil. O novo Código Florestal Brasileiro (12.651/2012), a nova Instrução Normativa (IN/MAPA 17 – 26/04/2017) sobre sementes e mudas e, no caso de produtores do estado do Rio de Janeiro, a Resolução INEA n° 124/2015, sobre procedimentos e parâmetros técnicos para a exploração florestal sob regime de manejo florestal sustentável, são alguns exemplos das principais normas a serem observadas e respeitadas.
Aroeira: exemplo de sucesso
A partir da exploração regulamentada e legalizada, as sementes florestais podem, por exemplo, ser comercializadas in natura, beneficiadas ou empregadas na produção de mudas para ações de restauração florestal, a serem implementadas na própria propriedade ou fornecidas à empresas especializadas em reflorestamento. A aroeira, árvore que produz a semente aroreira, popularmente conhecida como pimenta rosa, é um ótimo exemplo de planta nativa da Mata Atlântica com grande valor de mercado graças ao seu potencial culinário e medicinal.
O município fluminense de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, foi o primeiro do país a ter um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), elaborado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), para os agricultores e extrativistas que se beneficiam dessa cultura. Com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater-Rio), e recursos do programa Rio Rural, o município tem se destacado na produção e comercialização da pimenta rosa.
A parceria entre o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e Emater-Rio está mapeando as regiões com forte presença da espécie no estado com o objetivo de expandir a iniciativa para outros territórios.
Integração e diversificação da produção
As espécies nativas também podem ser integradas à outras atividades produtivas, como o pecuária e a agricultura, por meio dos sistemas Agroflorestais e Silvipastoris. Além dos produtos com valor econômico que podem ser explorados de forma sustentável, o consórcio de espécies nativas oferece diversas vantagens ambientais e econômicas como a manutenção da biodiversidade (aumento da oferta de alimento e disponibilidade de hábitats), melhoria da qualidade do solo (retenção de umidade, conservação da microfauna e fertilidade, controle da erosão), contribui para a preservação dos recursos hídricos (aumento de infiltração e manutenção de nascente, controle de enxurradas e mitigação de secas), conforto térmico e bem-estar animal, entre outros benefícios.
Muitas espécies nativas, por meio de suas folhas, galhos, sementes e cascas, também possuem propriedades medicinais reconhecidas e comprovadas cientificamente. Esse é outro mercado promissor a ser explorado de forma sustentável, visto que há um tendência crescente pela valorização de produtos naturais e sustentáveis. Mas, como já foi dito, é preciso observar as normas legais para exploração e comercialização desses produtos.
Caso tenha interesse em se aprofundar no assunto, procure o técnico local para obter orientação sobre quais espécies podem ser interessantes para integrar a sua produção ou desenvolver ações de restauração florestal com a possibilidade de exploração econômica sustentável.
Consulte e compartilhe o Calendário de floração e frutificação de espécies nativas da Mata Atlântica com outros produtores rurais.
Comments