Os animais silvestres, que vivem livres na natureza, exercem funções muito importantes para o equilíbrio ecológico. Muitas espécies, por exemplo, são dispersoras de sementes e polinizadoras e, portanto, plantam árvores e contribuem para a regeneração de áreas degradadas, além de controlar as populações de outras espécies. Ao mesmo tempo que ajudam a regenerar a vegetação, a presença e diversidade de animais pode ser um bom indicativo de conservação.
A tendência é que, em áreas onde a vegetação está mais conservada ou em recuperação, a presença de animais silvestres – endêmicos da Mata Atlântica ou não – seja mais abundante e diversa. Isso porque a floresta atrai animais em busca de abrigo e alimento.
Para avaliar a presença e variedade de espécies animais nas áreas de intervenção do projeto, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicação (MCTIC), componente responsável pela coordenação geral do projeto, além da implementação dos sistemas de monitoramento e avaliação, deu início ao trabalho de monitoramento de fauna, como parte da avaliação dos possíveis Serviços Ecossistêmicos gerados pelas ações do projeto.
A pesquisa está sendo realizada em áreas selecionadas a partir dos diferentes estágios de vegetação e atividades desenvolvidas nas propriedades contempladas pela iniciativa nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Para o levantamento de fauna, estão sendo avaliados alguns grupos taxonômicos, entre eles as abelhas, vespas, borboletas frugívoras, aves, mamíferos de médio e grande porte e macroinvertebrados de solo. Os grupos foram selecionados por permitirem avaliar as respostas de populações e ecossistemas às práticas de conservação e aos impactos de fatores externos, como a perda de habitat, mudanças climáticas e também grupos afetados pela intensificação da agricultura em escala local e de paisagem.
Áreas no Rio No Rio de Janeiro, as coletas de dados para monitoramento de fauna estão sendo realizadas em quatro propriedades diferentes, todas na região do Médio Paraíba, Sul do estado. Ao todo, serão quatro visitas ao longo do ano, abrangendo o período das secas e das chuvas. Durante a primeira missão dos pesquisadores, realizada entre agosto e setembro deste ano, foram monitoradas espécies de mamíferos, aves, abelhas, vespas e borboletas.
Nesta etapa, já foi possível identificar a presença de algumas espécies em diferentes tipos de vegetação, que variam entre os estágios inicial (regeneração natural), intermediário (restauração mais avançada) ou pioneira (vegetação nativa). Entre os mamíferos registrados nesta primeira fase de campo estão a lebre-do-mato (Tapiti) (foto abaixo, à esquerda), cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) (foto acima) e até mesmo uma irara (Eira barbara) (foto abaixo, à direita), mais comum em áreas de vegetação densa e difícil de ser registrada.
Aves como o sabiá e o sanhaço (foto abaixo), espécies dispersoras de semente, também foram avistadas nas áreas de intervenção do projeto no estado do Rio, bem como espécies endêmicas da Mata Atlântica, como o chororó-cinzento.
Metodologia Para observar os animais, os pesquisadores utilizam algumas técnicas de observação e registro. No caso dos mamíferos, câmeras com sensor de movimento são instaladas no tronco de uma árvore ao longo de três noites diante de uma isca, que pode ser uma fruta ou peixe. Qualquer movimentação é capturada pela câmera e avaliada pelos pesquisadores, que buscam identificar as características do animal. Neste grupo, também estão sendo observados vestígios como pegadas e fezes dos animais, bem como a apuração de relatos dos produtores rurais sobre a presença de animais na região.
As aves são avistadas a partir da técnica de ponto de escuta, na qual o pesquisador, especialista em avifauna, reconhece a espécie a partir do canto ou da visualização direta dos pássaros. No caso dos invertebrados, como abelhas, vespas e borboletas, há armadilhas de atração específicas para cada grupo, o que permite o registro das espécies.
É importante ressaltar que os dados registrados ainda estão em análise e, até o momento, apenas permitem confirmar a ocorrência destas espécies na região.
Segundo o coordenador do projeto de monitoramento, Joésio Siqueira, consultor responsável pela execução desta etapa a serviço do MCTI, a expectativa é que “além de contribuir para o inventário da diversidade biológica regional, seja possível demonstrar a importância das intervenções do projeto para a manutenção, não somente da diversidade biológica em si, mas dos serviços ecossistêmicos relacionados às áreas participantes”.
Ameaças à fauna A perda e degradação da vegetação causadas por desmatamento e incêndios florestais ainda são as principais ameaças à manutenção de espécies nativas da Mata Atlântica ou em rota migratória. Por isso é muito importante preservar áreas de vegetação nativa e promover a conectividade entre elas, além de restaurar áreas degradadas. Quanto mais árvores plantadas, mais abrigo e alimentos para os animais, que, em contrapartida, nos ajudam a recuperar o ecossistema.
As campanhas de conscientização contra as queimadas e as ações apoiadas pelo projeto Conexão Mata Atlântica, que reconhece práticas ambientais desenvolvidas pelos produtores rurais, visam contribuir para a manutenção da fauna, além de outros serviços ecossistêmicos promovidos pela conservação do bioma.
A caça e tráfico de animais silvestres também colocam em risco a diversidade de espécies do bioma e o equilíbrio desse rico ecossistema. É crime ambiental (Lei lei n° 9.605) matar, perseguir, caçar, apanhar e utilizar sem permissão animais silvestres. Não compre animais silvestres em feiras e em casos de suspeita de captura ou comércio ilegal, entre em contato com a Ouvidoria do Inea (21 2332-4604).
Infelizmente, o atropelamento de fauna em rodovias e estradas rurais também coloca em risco a vida de espécies silvestres, que são atingidas ao tentar atravessá-las em busca de alimento ou refúgio. O atropelamento de fauna é uma questão pertinente em todas as rodovias do país. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT), cerca de 475 milhões de animais silvestres são atropelados por ano no Brasil.
Monitoramento ecossistêmico Além do monitoramento de fauna, o MCTIC também vem trabalhando na avaliação da diversidade da flora e de dados de estoque de carbono - e da relação desses serviços ecossistêmicos entre si - nas áreas de atuação do projeto nos três estados.
O objetivo, segundo Luiz Henrique Pereira, diretor nacional do projeto e coordenador-geral de Ciência para Biodiversidade pelo MCTIC, é coletar, analisar e comparar os avanços nas propriedades rurais participantes do Conexão Mata Atlântica, em relação às não contempladas e apresentar os resultados das ações do projeto. “A partir dos dados do monitoramento e as peculiaridades, custos de implementação e ganhos em biodiversidade e serviços ecossistêmicos será possível definir um modelo que possa ser replicado em outras regiões. Além disso, atenderá uma demanda por dados nas regiões do projeto em bases de fauna, flora, água e solos”.
A previsão é que os resultados do monitoramento sejam apresentados em maio de 2022.
Crédito das fotos: João Rafael Marins
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