Logo na chegada ao rancho Recanto de São Francisco, em Porciúncula, Noroeste fluminense, a paisagem verde chama atenção para a beleza das plantações de café em comunhão com áreas remanescentes de Mata Atlântica, preservadas pela proprietária rural Maria Lucia Marucci, 58 anos. A propriedade de Malu, como é mais conhecida, possui 28 hectares, dos quais 40% são de área de floresta nativa conservada.
Em 2001, após o falecimento da mãe, Malu e os irmãos assumiram a fazenda que um dia foi dos avós, agricultores italianos que vieram fugidos da Segunda Guerra Mundial, e depois dos pais, que continuaram a tradição agrícola da família. “A primeira coisa que fiz quando assumi a propriedade foi plantar árvores nativas e frutíferas e criar uma pequena agrofloresta. Era um sonho meu desde pequena reflorestar a área próxima a principal nascente”, lembra Malu.
A propriedade de Malu fica ao lado das terras das quatro irmãs, que também seguiram com a cafeicultura como atividade produtiva principal. Atualmente, Malu conta com dois parceiros agrícolas para o plantio e colheita do café. A safra é vendida para a Cooperativa de Produtores de Café do Noroeste Fluminense (Coopercanol), instituição parceira local do projeto Conexão Mata Atlântica.
Há oito anos, quando se aposentou da carreira de professora de Matemática, Malu passou a se dedicar mais à propriedade e resolveu construir uma horta integrada à natureza. Em busca de conhecimento, realizou em 2016 um curso de agricultura sintrópica, que propõe a organização, integração, equilíbrio e preservação de energia no ambiente. “A partir desse curso mudei a minha visão sobre a agricultura. Era tudo o que eu sempre quis fazer na propriedade e já tinha começado de forma intuitiva. A agroflorestal imita a natureza, pois cobre o solo, mistura culturas e produz matéria orgânica de forma natural”, afirma Malu.
Na agroflorestal, Malu utiliza de técnicas de adubação verde e ciclagem de nutrientes próprias dos sistemas agroflorestais e sintrópicos e plantou diversas espécies de árvores nativas endêmicas como a uvaia, o cambucá, o palmito juçara (ameaçado de extinção) e, até mesmo, flores tropicais como a Bastão do Imperador e a Sorvetão, vendidos na feirinha de produtores locais de Porciúncula e Varre-Sai.
Segundo Malu, a produção da agrofloresta ainda é pequena e tem sido aproveitada basicamente para o consumo da família. Apenas o excedente é vendido na feira local. Ela conta que já foram cultivados mini moranga, laranja, mamão, palmito pupunha, carambolas entre outras leguminosas e frutíferas.
Incentivo para conservar e produzir - Com incentivos do programa do Rio Rural, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, três nascentes presentes na propriedade de Malu foram protegidas (isoladas com cerca). O programa também criou condições para a recomposição de mata ciliar, vegetação em torno de rios e córregos. “Parte dessa área era pasto degradado e hoje está tudo reflorestado”, comemora a proprietária - também com incentivos do Rio Rural, Malu adquiriu uma estufa de café para melhorar os processos da produção do café.
No momento, Malu se prepara para participar do projeto Conexão Mata Atlântica e dar continuidade às ações de conservação, restauração e conversão produtiva que já vêm sendo implementadas com apoio do Rio Rural e agora poderão ser recompensadas pelo projeto Conexão Mata Atlântica. “Eu preservo a floresta por prazer e amor à natureza. Poder receber por isso é um reconhecimento maravilhoso pelo trabalho que nós estamos desenvolvendo”.
Por meio do Salto Tecnológico, Malu pretende investir os recursos do pagamento por serviço ambiental (PSA) na recuperação de área de pastagem a partir da implantação de técnicas de irrigação e do sistema silvipastoril, combinando de espécies nativas arbóreas e/ou exóticas, pastagem e gado manejados de forma integrada.
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