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Sistema Silvipastoril: pecuária produtiva com benefícios ambientais

Atualizado: 4 de out. de 2019


Sistema Silvipastoril com eucalipto na fazenda da Embrapa Gado de Leite, no Campo Experimental Santa Mônica, distrito Barão de Juparanã, em Valença - RJ. (Foto: Daniella Fernandes)

Alinhar a produção às práticas produtivas mais sustentáveis pode ser um bom negócio para a atividade pecuária. O sistema silvipastoril ou agrossilvipastoris, também conhecido como sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (sistemas ILPF), que combina árvores, pastagens e gado numa mesma área e ao mesmo tempo, têm se mostrado uma alternativa rentável e sustentável para o manejo da pastagem em todo o mundo. Além de melhorar a produtividade e possibilitar o complemento da renda com diversificação da produção, a prática contribui para a preservação de serviços ecossistêmicos como a água, a biodiversidade e a regulação do clima.


Existem diferentes arranjos de sistemas silvipastoris que podem incluir espécies arbóreas madeireiras ou frutíferas. Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, José Ricardo Pezzopane, o planejamento (escolha das espécies, número de árvores por hectare e implantação na pastagem - dispersas, em linhas simples, duplas etc.) depende, principalmente, da finalidade esperada pelo produtor. “Existem espécies arbóreas que vão apenas promover os serviços ecossistêmicos. Por outro lado, existem espécies que podem agregar valor ao sistema de produção com a venda da madeira ou de outros produtos florestais ou agrícola, como as árvores frutíferas, por exemplo”.


No entanto, segundo Pezzopane, as vantagens econômicas do sistema dependem do nível de manejo que o pecuarista adota no pasto. “De maneira geral, nas condições do Brasil, se o pecuarista adota manejo correto da pastagem - com a escolha da forrageira adequada à sua região, manejo da fertilidade do solo, adubação de reposição, adubação de manutenção e pastejo rotacionado - o uso das árvores no sistema silvipastoril promove benefícios de conforto térmico animal e com um pequeno número de árvores por hectare (em torno de 150) o produtor pode tem um retorno financeiro”.


O número de árvores por hectare também precisa ser bem planejado. Se for muito elevado, com o tempo pode ocorrer excesso de sombreamento na pastagem, diminuindo sua produção. Nesse caso, explica Pezzopane, práticas como a desrama ou mesmo o desbaste (retirada das árvores) deverão ser consideradas.


Entretanto, se as condições de manejo de pastagem não são boas, é importante que, além da prática de introdução das árvores, o pecuarista se preocupe com as boas práticas no manejo da pastagem, para que os reflexos da implantação das árvores no sistema sejam mais visíveis.


Benefícios ambientais e econômicos

Conforto térmico para o rebanho. (Foto: Stefhanie Piovezan)

A presença das árvores na pastagem contribui para geração de diversos serviços ambientais e benefícios econômicos. Segundo Pezzopane, primeiramente, as árvores promovem alterações na fertilidade do solo, com ciclagem de nutrientes e aumento da matéria orgânica, especialmente se as árvores forem fixadoras de nitrogênio (como as gliricídias, por exemplo). “Ocorrem também alterações físicas do solo, com aumento da taxa de infiltração de água no solo e aumento da retenção da água no solo, além da melhoria na atividade microbiológica, que influencia muito a fertilidade do solo”.


O sistema proporciona, ainda, diversos benefícios para a saúde e bem-estar do animal, melhorando a produtividade. A presença de árvores (adequadamente dispostas na pastagem) pode proteger os animais contra as adversidades climáticas com reflexo positivo sobre a produtividade e saúde do rebanho. Para fugir do calor excessivo, o gado instintivamente busca pela sombra das copas das árvores. Pesquisas mostram que a falta de sombra pode reduzir cerca de 10% a 20% da produção do gado leiteiro.


“As árvores promovem a amenização das condições microclimáticas na pastagem, o que é bom para o conforto térmico animal e para a “vida” que ocorre no solo. Essa combinação de fatores torna o sistema mais estável e em alguns casos promove o aumento da biodiversidade no sistema de produção”.


Difusão do sistema


O conceito de sistema agroflorestal não é novo no mundo. Na Idade Média, já haviam relatos de cultivos associados de árvores com culturas agrícolas ou pastagem. Em regiões tropicais essa é uma prática utilizada para a produção de algumas culturas agrícolas como o café, o cacau e mesmo pastagens, dentre outras.


Segundo o pesquisador, no Brasil, os sistemas agroflorestais ainda são mais utilizados na região Norte, especialmente no bioma Amazônia. “Um levantamento censitário de 2016, realizado pela empresa Kleffmann, contratada pela Rede de Fomento ILP, identificou no Brasil cerca de 11,5 milhões de hectares com uso de diferentes sistemas de integração lavoura pecuária floresta, sendo destes 17% com a presença do componente arbóreo, caracterizados com sistemas agroflorestais”.


Embora seja um número expressivo, ainda é pequeno diante da dimensão territorial do Brasil e a quantidade de áreas de pastagem subutilizadas ou degradadas. Segundo Pezzopane, a resistência cultural dos pecuaristas para inovar com a introdução de um novo componente no pasto; associado ao desafio técnico, pois os profissionais que atuam na pecuária (agrônomos, zootecnistas e veterinários) não são capacitados para manejar sistemas de produção mais complexos, como os silvipastoris e agrossilvipastoris, são alguns dos desafios a serem enfrentados na difusão da prática no país. “Para vencer esses desafios, a pesquisa e a transferência de tecnologia vão ter que se esforçar de maneira contínua para que esses sistemas tenham sua adoção cada vez maior”.


A necessidade de mudança tem vindo da própria sociedade, que está cada vez mais consciente e preocupada com a origem dos produtos que consome. Para atender essa crescente tendência, o mercado tem aumentado os investimentos em produtos produzidos de forma mais sustentável, que gerem benefícios ambientais, sociais e que sejam economicamente viáveis. Além da possibilidade de melhorar a produtividade e diversificar a renda, a adoção de práticas que geram menos impacto ao meio ambiente, como é o caso do Sistema Silvipastoril, também agrega valor diferenciado à imagem do negócio rural.


Incentivo


O projeto Conexão Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro incentiva e reconhece práticas produtivas mais sustentáveis, como o Sistema Silvipastoril, por meio do mecanismo de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). O segundo edital de seleção pública, previsto para ser lançado este semestre, terá como foco o reconhecimento de ações de restauração ecológica e a adoção dos sistemas silvipastoris e agroflorestais: oportunidade para produtores rurais das áreas de atuação do projeto investirem na melhoria da produção e proteção de serviços ecossistêmicos.


No Rio, as áreas de atuação do projeto correspondem a seis microbacias prioritárias, localizadas em seis municípios: Italva (microbacia Córrego Coleginho/Olho D’água), Cambuci (microbacias Valão Grande, Córrego Caixa D’água/Valão Grande II), Varre-Sai (microbacia Varre-Sai), Porciúncula (microbacia Ouro), Valença e Barra do Piraí (microbacia Rio das Flores).


Os proprietários rurais das áreas atendidas, interessados em se beneficiar do projeto, podem procurar as unidades executoras locais para obterem informações e assistência técnica sobre a documentação necessária e a elaboração da proposta técnica, que indicará as áreas e ações a serem trabalhadas nas propriedades. O projeto oferece suporte técnico ao proprietário rural durante todo o processo de inscrição, desde a emissão do Cadastro Ambiental Rural (CAR), um dos documentos exigidos pela seleção pública, até o desenvolvimento do Plano de Ação.


O edital para seleção de produtores rurais que já desenvolvam ou se interessem em implementar os sistemas silvipastoris e agroflorestais, ou que realizem ações de reflorestamento, será divulgado, em breve, no site do projeto: www.inea.rj.gov.br/conexaomataatlantica.

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